Habituados que estamos a alimentar a discussão sobre o “problema das florestas” parecemos ter esquecido que as florestas, por si só, não são o problema.
Existe um ditado que alerta, em traços gerais, para o perigo de ignorarmos a floresta, por estarmos demasiado focados a olhar para uma árvore. É uma forma curiosa de referir que muitas vezes esquecemos a grandeza das questões que estão à nossa frente, por estarmos demasiado embrenhados nos pormenores que as compõem.
Com as florestas – as verdadeiras, não as metafóricas – parecemos ter feito o mesmo. Focados na questão da sua rentabilidade, de quais as espécies que devem ser promovidas, de como e quem deve realizar a gestão da vegetação, de quem é a responsabilidade pelos incêndios florestais, entre muitos outros pormenores que dão forma ao problema das florestas, muitas vezes esquecemos que a raiz do problema “das florestas” é um problema nosso, comportamental.
De acordo com a Análise do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, que incidiu sobre as Causas dos Incêndios Florestais entre 2003 e 2013, a ação humana é prevalecente como causa dos incêndios. Da longa lista de causas dos incêndios florestais, as causas naturais foram responsáveis por apenas 809 ocorrências durante o período analisado. Por contraste, as queimadas foram responsáveis por umas estonteantes 21220 ocorrências, às quais se juntam as ocorrências associadas à realização de fogueiras (3565), ao uso de maquinaria (748) e ao ato de fumar em espaços florestais (1011 ocorrências).
Embora o combate aos incêndios seja da responsabilidade das diversas entidades oficiais, incluindo Bombeiros, Sapadores Florestais, Vigilantes da Natureza, entre muitos outros, a responsabilidade da prevenção recai sobre todos nós. As alterações nos comportamentos de risco são essenciais, nomeadamente no que diz respeito à não utilização do fogo em florestas durante os períodos críticos, sendo essencial acompanhar e compreender os alertas e avisos que são emitidos pela Proteção Civil durante a época de maior perigo.
Adicionalmente, é importante compreender que os hábitos associados a momentos de lazer, não tendo obrigatoriamente que ser abandonados, devem ser realizados de forma consciente. Um churrasco em família pode ser um momento descontraído que dá origem a um incêndio. Da mesma forma, o descarte negligente de lixos e pontas de cigarro é algo muitas vezes feito de forma irrefletida, mas que também pode obrigar a dias de penoso e custoso combate às chamas, com perda de riqueza natural e até vidas humanas.
Alternativas aos hábitos, aos costumes, aos comportamentos. O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas oferece inúmeros recursos didáticos para que a população saiba como pode realizar em segurança as suas atividades que envolvam fogo e floresta, nomeadamente com queimadas assistidas e controladas, em parceria com os Bombeiros locais, ajudando também a perceber como deve ser conduzida a silvicultura e a limpeza dos espaços verdes adjacentes às habitações, por forma a aumentar a resiliência das nossas florestas e a garantir a segurança das populações.
É importante mencionar também que existem alternativas mais seguras no que concerne aos equipamentos de trabalho, seja com maquinaria elétrica que não oferece risco de ignição, seja com soluções para os momentos de lazer que dispensam a combustão. Tanto para os churrascos como para quem opta por continuar a fumar, as soluções sem combustão, como o tabaco aquecido, ou cigarros eletrónicos, são uma alternativa mais responsável perante o esforço de preservação da nossa riqueza natural. Para que possamos continuar a olhar para as árvores, sem deixar de ver a floresta.